
Não sei se fui eu que atravessei o tempo ou se foi o tempo que passou por mim, deixando-me para trás. Descobri, num instante de epifania, que sou filho do vento, sempre a vaguear, perdido das minhas origens. De onde vim? Quem sou? Essas perguntas ecoavam na minha mente, sem resposta. Perguntei às pedras da calçada, gastas pelos passos de tantos outros antes de mim, e às ondas do mar, que parecem conhecer todos os segredos. Qual é a minha morada? Onde está o meu lugar neste mundo? Mas as pedras permaneceram silenciosas, e o mar, indiferente, continuou a sua dança eterna.
Na minha loucura, procurei respostas onde não havia. Entre as brumas de um deserto, quase sucumbi ao desespero. Era como se cada grão de areia me puxasse mais fundo, afundando-me na minha própria solidão. Em cada lágrima que derramei, senti a alma despir-se, ficar nua, vulnerável. O que senti nesse momento… só eu sei. Talvez, quem sabe, a lua o saiba também, pois ela é a única testemunha silenciosa das minhas noites em claro.
E o tempo, implacável, continua a passar. Sem dó, nem piedade. Não espera por ninguém. O tempo não dá tempo ao tempo, e essa é a maldita verdade com a qual todos temos de lidar. E aqui estou eu, preso neste ciclo, entre o passar do tempo e a busca de mim mesmo, à procura de um lugar ao qual possa verdadeiramente chamar de lar.
- Filipe Miguel
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