Filipe de Luar

Sou uma pessoa de jeito delicado e, por vezes, retraído. Como quem se esconde nas entrelinhas da vida, sinto-me incompleto, em constante construção, sempre em busca de algo mais. Há dias em que sou lágrima que corre sem aviso, outras vezes sou um sorriso que suplica para ficar um pouco mais, agarrado a momentos que parecem querer escapar. A minha alma é pura, mas também se esconde, tal como o mar esconde segredos nas suas profundezas.
Quando pego na caneta, as palavras nem sempre fluem como gostaria. As linhas que escrevo são incertas, muitas vezes carentes de inspiração, e então deixo a razão tomar conta do papel. Mas, mesmo assim, continuo. Sou como a chuva, que cai sem pedir permissão, molhando o solo e as vidas que toca. Sou como o Sol, que, embora quente e acolhedor, também pode queimar. E, em momentos de quietude, sou a gota de orvalho que beija a manhã, mas cheia de significado.
Os meus defeitos estão entrelaçados como fios num tear, tecidos com ilusões e sonhos, com pedaços do meu coração. Sou uma árvore, parte de uma colheita qualquer, sem nome nem fama, mas cheia de vida. E, acima de tudo, sou a voz da emoção, aquela que fala quando as palavras falham. Sim, sou imperfeito. Mas é nessa imperfeição que encontro o meu lugar, no meio de toda a perfeição que me rodeia. Sou apenas eu, entre tudo o que não sou, e talvez seja isso que me faz continuar.

• Filipe Miguel