Filipe de Luar

Já desculpei vezes demais. Já perdoei sem medida. Mas esquecer… isso não.
Aprendi a arrumar dores como se fossem livros numa prateleira, cada uma no seu lugar, com a sua lição.
A vida ensinou-me que perdoar é um dom, mas não é sinónimo de ser tolo.
Que tolerar não é aceitar tudo, e que amar… ah, amar é coisa séria.
Há erros que são nossos. Outros, nem tanto.
Mas em nome do amor, quantas vezes nos esquecemos de nós?
Quantas vezes engolimos silêncios, desculpamos ausências, justificamos o injustificável?
Mas o amor não se aguenta sozinho.
Tem de ser partilhado, construído, alimentado.
Não sobrevive se apenas um souber amar.
Amar não é um passatempo.
É sentir cada agridoce da alma e ainda assim continuar a querer mais.
É ter atitude, investir, gastar amor à fartazana sem medo de ficar sem nada, porque quanto mais se dá, mais se tem.
Amar não é saltitar de flor em flor.
É cuidar da mesma planta todos os dias.
É estar, é ficar, é resistir.
Nos dias bons, é fácil amar.
Mas é nos dias maus que se vê quem ama de verdade.
Porque amar na bonança qualquer um ama.
Na tempestade, só os que vivem o amor na pele, no osso, no coração inteiro.
O amor verdadeiro não anda aos ziguezagues.
Não balança. Não hesita.
Quem ama, sabe. Sente. Fica.
Não há lugar para egos em tronos, nem para orgulhos que gritam mais alto que o coração.
Quando o amor ocupa o banco de trás, tudo perde cor.
Desaba à primeira contrariedade.
Fica cinzento. Dói. Corrói.
Porque o amor, quando não é prioridade, morre devagar.
E então pergunto:
Será amor ou será ego?
Será teimosia ou medo de ficar só?
Será amar… ou será apenas querer ser amado?
Amar é despir-se da alma.
É deixar que nos vejam como somos — com medos, defeitos, manias e tudo aquilo que tentamos esconder.
É não ter medo de ser ridículo, porque no amor não há vergonha — há entrega.
Por isso, guarda isto contigo:
Só ama de verdade quem ama mesmo nos dias feios.
Quem não vira costas quando dói.
Quem escolhe, todos os dias, continuar a amar.
Amar é isso.
Simples assim.
Difícil como tudo.
Mas belo como nada mais no mundo.

• Filipe Miguel