
A noite desce sobre mim, fria e densa, envolvendo-me num abraço silencioso. Há algo de familiar na escuridão, como se fosse uma confidente que me acolhe sem julgamentos, testemunha muda das lágrimas que deslizam pelo meu rosto. Mas, por vezes, parece divertir-se com o meu tormento, zombando da minha insónia, aprofundando a solidão que se instala no meu peito. A escuridão não é apenas ao meu redor – é dentro de mim, infiltrando-se como se desejasse permanecer para sempre.
O mundo à minha volta perde o seu encanto. A lua e as estrelas cintilam, chamando-me com uma luz distante, quase ilusória. Sussurram palavras de grandeza, chamam-me príncipe, mas que príncipe sou eu senão um espectro vestido de sombras? Perdido num feitiço quebrado, vagueio entre o real e o imaginado, sem saber se ainda existe magia para me salvar.
Na minha alma, carrego uma cicatriz profunda, gravada como uma ferida antiga que nunca cicatriza. É o eco cruel de palavras doces que escondiam traição, promessas proferidas por lábios que fingiam amor. A verdade e a ilusão travam uma guerra constante dentro de mim, e cada memória é um lembrete cortante daquilo que perdi.
A noite, sempre misteriosa e impenetrável, reflete as minhas angústias. No seu silêncio, escuto os gritos das minhas incertezas. As sombras que me rodeiam contam histórias de desilusões, segredos sussurrados ao vento, esperanças que desvaneceram. Estou à deriva, prisioneiro dos meus pensamentos, num oceano de promessas quebradas e dúvidas que me atormentam.
O peso da incerteza aperta o meu peito. As estrelas, outrora faróis de esperança, transformaram-se em lembretes do que nunca se concretizou. A magia, que outrora me envolveu e fez-me acreditar, dissipou-se como neblina ao amanhecer, deixando-me apenas com a sombra do que fui – e a dúvida do que ainda posso ser.
- Filipe Miguel
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