
Fica. Só por um instante. Não precisa de ser muito, apenas o bastante para fugirmos do mundo, para nos perdermos num recanto onde o tempo se dissolve e nada mais importa. Como se nos escondêssemos num trilho esquecido entre montanhas, onde o silêncio nos envolve e a distância nos protege.
Deixa que o passado se desfaça no vento, que os verbos se tornem irrelevantes. As palavras que outrora carregavam significados profundos hoje parecem frágeis, cambaleantes como pássaros inseguros, tentando voar sobre rochedos afiados sem direção definida. Não quero explicações, promessas ou amarras. Apenas este momento, puro e sem pressa.
Fica comigo, sem medos, sem a necessidade de entender tudo. Quero despir-me do cansaço que carrego no olhar e repousar num lugar onde caos e paz coexistem, onde os pensamentos se dissolvem como fumo perdido no horizonte. Que importa o que nos rodeia? Os ecos da natureza, os medos que sussurram ao longe, os fantasmas do que já foi? Nada disso me preocupa agora. Estou habituado a conviver com utopias, com desejos que nunca chegaram a ser reais.
Fica. Não para responder às minhas incertezas, mas para partilhar comigo o silêncio. Para que eu possa, sem reservas, admitir todas as verdades que me aprisionam. Preciso deste instante para libertar o que me pesa, para transformar fraquezas em murmúrios sinceros, sem medo de julgamentos.
Fica comigo, só por um momento. Um instante tão breve que quase se perde no tempo, mas tão intenso que se tornará eterno.
- Filipe Miguel
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