
Eu sou do mar. É nele que encontro o meu refúgio, o meu verdadeiro lar. As minhas raízes entrelaçam-se com as ondas, e ao oceano pertenço como parte inseparável da sua essência. Sou o reflexo no teu olhar, a lágrima silenciosa que desliza e encontra descanso num lenço esquecido. Sou a onda persistente que atravessa o imenso oceano apenas para tocar os teus pés, num instante breve, mas eterno.
Sinto-me como um barco que navega sem destino, mas que nunca se perde. Entrego-me às marés, deixando-me levar sem resistência. E quando o amanhecer chega, sou completamente do mar, sem reservas, sem hesitações. Em mim habita o perfume da vida, aquele aroma de maresia que preenche o ar, misturado com o sal que permanece nos lábios após um mergulho.
Sou o Sol exausto que, ao fim do dia, repousa sobre as águas, mergulhando num abraço silencioso com o horizonte. É um instante de magia, onde céu e mar se fundem numa dança infinita, até que, sem aviso, a luz de um novo dia desperta. E, no meio dessa vastidão, sou a gaivota que corta os céus, flutuando sobre o desconhecido. Os meus pensamentos são versos soltos, fragmentos de poesia que se materializam sem esforço.
Carrego em mim sonhos desfeitos e amores que quase foram perfeitos. Vivo liberto de amarras, distante de conceitos que me aprisionem. Sou, acima de tudo, o abrigo para qualquer embarcação que precise de um porto seguro. Eu sou do mar e a ele pertenço, sem condições, sem dúvidas, apenas com a certeza de que é nele que me encontro e me reencontro.
- Filipe Miguel
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