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O Tempo entre Nós

Não sei onde guardar o sol que trouxe comigo, aquele calor dourado que ainda se demora na minha pele, como um segredo que se recusa a partir. Trago-o em mim, como um reflexo de algo maior, uma lembrança que se dissolve entre o agora e o que ficou por dizer. O tempo escorre pelos meus dedos como areia fina, cada instante fugaz como uma onda que se desfaz na praia antes de ser inteiramente minha. E quando a lua ascende ao céu, prateada e misteriosa, sinto que ela te chama, que te envolve, e no seu brilho enigmático encontro a tua presença.
A saudade rasteja pelas ruas de pedra, espalhando-se como uma sombra que dança ao sabor do vento, trazendo-te de volta em memórias involuntárias. Nos recantos desta casa, onde o silêncio conta histórias que já não ouso dizer em voz alta, percebo que o tempo não apagou o vestígio de nós. De olhos fechados, sinto ainda o teu toque, o calor do teu corpo que um dia encontrou refúgio no meu, como se nunca tínhamos sido dois, mas apenas um.
As palavras, antes fiéis companheiras, agora escapam-me. Dançam na minha mente, mas recusam-se a ser escritas. Tento dar-lhes forma, mas o papel permanece em branco, como se ele soubesse que nenhum verso poderia conter o que carrego no peito. Na batalha constante entre o que sou e o que sinto, percebo que sou apenas uma metade, incompleta, à espera de ser preenchida.
Tu, que habitas nos meus silêncios, que preenches os espaços entre cada batida do meu coração, és a parte que me falta. Não sou quem me escrevo, mas sim tu, que me lês, que me vês para além das palavras. E, mesmo quando tudo o resto falha, é na tua presença que encontro o meu significado.

  • Filipe Miguel
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