
Não me peças desculpa pelo tempo que passou. Pede-me, sim, desculpa pelo tempo que deveria ter sido vivido e não foi. Recordo-me das horas fugazes que escorregaram entre os nossos dedos, dos dias em que estiveste ausente, como uma sombra que se dissipou antes que eu a pudesse alcançar. A casa parecia vazia, silenciosa, sem os ecos das nossas risadas, sem o calor da tua presença.
Não me peças desculpa pelo carinho que nunca recebi, pelos momentos que deixei de viver sozinho, a contar as horas e os instantes, ansiando por ti. As cartas que te escrevi, cheias de promessas e desejos, e as tuas que nunca recebi, são páginas em branco, como as noites em que olhei para o teto, esperando que algo mudasse.
Não me peças desculpa pelos beijos que te implorei e que nunca dei, porque o teu coração estava distante, fechado a qualquer sentimento. Sinto a tristeza a envolver-me como uma manta pesada, enquanto recordo o que poderia ter sido, mas nunca foi.
Não me peças desculpa pela alma que te entreguei, quando tudo o que querias era o meu corpo, um momento fugaz de prazer que nunca se transformou em amor. O vazio que ficou é um peso que não se consegue ignorar, uma ausência que ecoa no meu peito.
Não me peças desculpa pelas noites mal dormidas, pelas preocupações que me consumiram, que tantas vezes me mantiveram acordado, a pensar em ti e no que não éramos. Na verdade, sou eu quem te peço desculpa. Por querer que me amasses quando o teu coração já estava comprometido. Por ter desejado algo que nunca poderia ser, por ter esperado por ti quando, no fundo, sabias que o nosso tempo não tinha chegado.
- Filipe Miguel
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