
Os dias escapam-me, deslizando pelos meus dedos como areia fina levada pelo vento, sem que eu consiga detê-los. O tempo avança implacável, e eu, impotente, apenas o observo a seguir o seu caminho. Continuo a caminhar, mas parece que já não sei qual é o meu destino. Sinto-me perdido, vagueando entre os montes, na esperança de encontrar uma nova fonte que sacie a sede que me consome. A fome já a matei, lançando a rede nas águas serenas do rio. Contudo, a dor persiste, e o frio gela-me a alma.
Adormeci e despertei inúmeras vezes, sempre com o vazio como companhia. Esse vazio foi um companheiro constante, tal como a sensação de estar perdido no tempo. Já experimentei momentos em que a vida me sabia a mel, mas também outros em que tinha um gosto amargo. Já me senti suspenso, frágil, como se estivesse pendurado por um fino fio prestes a partir-se. Caí tantas vezes, e em muitas delas nem sequer tentei levantar-me. Permaneci no chão, adormecendo nas quedas, como se fosse mais fácil esquecer o mundo dessa forma.
As lágrimas que derramei, bebi-as nas madrugadas solitárias, na esperança de afogar nelas a dor que me consumia por dentro. No entanto, a dor não se esconde, nem desaparece. Está sempre presente, acompanhando-me silenciosamente, enquanto os dias continuam a passar, fugindo-me sem que eu consiga retê-los. E o tempo, cruel, segue o seu curso indiferente aos meus lamentos. Nada nem ninguém o pode parar.
- Filipe Miguel
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