
Ao tentar resolver a situação, percebo que tudo isso representa a minha angústia. Por mais que me esforce para entender, sei que nunca conseguirei completamente. É como se algo estivesse preso dentro de mim, bem no fundo do coração, e a cada dia que passa, sinto que estou a morrer um pouco mais. A cada dia, perco uma parte de mim, sem que ninguém note. Mas, mesmo assim, seguimos, e, sem perceber, acabamos por nos encontrar novamente, como se fosse para mais uma festa, para outro daqueles momentos que mascaram a dor.
Imagino que vou acreditar que é uma festa. Vou dançar e cantar. Talvez seja a única garantia de continuar. Vou espalhar essa falsa euforia, vou contagiar corações com essa alegria forçada. Quem sabe assim, por um instante, consigo enganar-me a mim mesmo. E enquanto isso, a amargura e o tempo vão-se esvaindo, deixando o corpo vazio, a alma oca. No final, tudo se repete. Sem que se perceba, voltamos a nos encontrar, como se fosse para mais uma festa.
A sala à nossa volta parece uma pintura em movimento: as luzes coloridas, os risos falsos, o cheiro de bebida e suor. Mas nada disso importa. Estou aqui apenas para sobreviver, para dançar como se não houvesse dor, para fingir que esta festa é real. E assim, seguimos, tentando esquecer o vazio que nos habita, enquanto o som ecoa na nossa mente, abafando as vozes que insistem em nos lembrar da verdade.
No fundo, talvez saibamos que esta dança nunca termina. Ela apenas nos leva de uma festa para outra, enquanto deixamos pedaços de nós pelo caminho. E, sem perceber, estamos lá novamente, prontos para mais uma rodada, prontos para fingir, prontos para tentar esquecer.
- Filipe Miguel
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