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Perdoar o Tempo

Ela estava na varanda, o sol a descer lentamente. A luz dourada iluminava o seu rosto, dando-lhe um brilho suave. Ele chegou devagar, quase sem fazer barulho, como se não quisesse interromper aquele momento. Mas os olhos dele não conseguiam esconder a inquietação.
— Às vezes penso no tempo, — começou ele, com a voz carregada de algo que ela não soube definir, — no que ele traz e no que leva. Como agora, este pôr-do-sol. É bonito, mas vai embora rápido.
Ela olhou-o com carinho, como se sentisse o mesmo. A resposta saiu com naturalidade:
— O tempo tem esse poder, — disse ela, com a voz tranquila. — Por isso, decidi perdoá-lo.
Ele franziu a testa, não entendendo muito bem. — Perdoar o tempo? Como assim?
— O tempo, — disse ela, os olhos brilhando com um entendimento profundo, — é capaz de nos machucar, mas também de nos curar. Ele traz momentos de felicidade, mas também de tristeza. Faz o dia clarear e a noite escurecer.
Ele sorriu, um sorriso pequeno, meio triste, como se algo tivesse se encaixado. — Sim, esquecemos às vezes que o tempo também cura.
Ela apertou a mão dele, sentindo a conexão entre os dois. — O tempo dá-nos força para seguir em frente, mesmo quando tudo parece difícil.
Ele, com a voz mais firme, repetiu: — Perdoo o tempo. Ele passa rápido, mas nos ensina tantas coisas.
Ela olhou o sol, agora quase desaparecendo, e disse, com calma: — Perdoar o tempo é aceitar a vida que temos, com os altos e baixos. Ele molda-nos de formas que nem sempre vemos.
O silêncio entre eles foi confortável, como se já soubessem que haviam entendido tudo. Ali, juntos, sem mais palavras. O tempo continuava a passar, mas naquele momento, a paz estava completa.
— Perdoar o tempo, — ele murmurou, — é aceitar que ele nos trouxe até aqui, a este momento.
Ela encostou a cabeça no ombro dele e sorriu. — Neste momento, estamos juntos. E isso é tudo o que importa.

  • Filipe Miguel

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