Filipe Miguel
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O tempo escorre por mim como um rio que nunca dorme. As horas são gotas que deslizam pela pele da memória: algumas frias e silenciosas, outras quentes e ruidosas, como se cantassem histórias que nunca chegaram a acontecer.Há dias em que esse rio parece um espelho partido: cada fragmento reflecte uma versão de mim que
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Sou prisioneiro de mim. As chaves, esquecidas de propósito na ranhura do outro lado da porta, repousam frias como ferro molhado. Quase sinto o cheiro do metal oxidado, o frio a subir-me pelos dedos só de imaginar tocá-las. Estão ali, tão perto, mas pesam como montanhas invisíveis.O meu coração, agrilhoado, esqueceu-se do voo. As asas
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As janelas do meu quarto são tímidas.Só se abrem quando o silêncio é tão profundo que até os pensamentos se calam, como se estivessem à espera de um grito que nunca chega.Ficam suspensas, à escuta, desejosas de algo novo que as desperte.Mas nem elas gritam.Nem eu.Ficamos os três, eu e as duas janelas, presos a
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Não gostes de mim só porque alguém te disse que talvez valesse a pena.Não me queiras bem apenas porque o mundo à tua volta acha que combinamos.Se estás perto, é porque te deixei entrar. Mostrei-te o caminho e esperei por ti.Agora, antes de ficares, tenta perceber quem sou.Vê como vivo, como respiro, como existo quando
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Escrevo porque escrever é simples. Porque a palavra, quando nasce, abre janelas: liberta-me, faz-me crescer, ajuda-me a construir e a partilhar. Escrevo para me dividir sem me perder, para me reconhecer em cada linha, para me juntar nas entrelinhas.Além disso, escrevo porque me entrego à arte de escolher as palavras certas, aquelas que, em qualquer
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Perdi o norte. Deixo-me arrastar pelo vento, caminho sem destino, tentando calar este pranto que insiste em nascer. Os meus olhos procuram alguém, uma presença que ainda não encontro. Não tracei mapa nem rota, mas sei que preciso descobrir algo novo: um fado diferente, uma vida renascida.Ficar parado é impossível. Tudo em mim recorda a
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A noite cai como um manto imenso, misterioso e sedutor, cobrindo-nos de silêncio e de estrelas. É nesse instante que o coração se abre e a mente dispara, inventando mundos que só existem quando o sol se esconde.A Dama Noite é feiticeira e DJ ao mesmo tempo: sopra vida aos sonhos, dá-lhes ritmo e deixa-os
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O amor é talvez a linguagem mais antiga e, ao mesmo tempo, a mais inacabada. Não se esgota em palavras, mas procura nelas abrigo. Cada gesto, cada silêncio, cada memória pode ser uma forma de dizer “amo-te” e, no entanto, nenhuma é suficiente.Dizer “amo” pode ser apenas o reflexo de uma mente que insiste em
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Era uma tarde cinzenta, pesada de silêncio. No meu refúgio solitário, o eco da tua ausência apertava o peito. O tempo arrastava-se, as horas esticavam-se como elásticos gastos, e os minutos recusavam-se a passar. Nem as aves cortavam o céu, nem a brisa ousava soprar.Do outro lado dos vidros, a rua dormia vazia. O amor?
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Tão puro o canto das aves nas árvores que cresceram comigo. Foram testemunhas silenciosas de amores ingénuos, de sonhos que me fizeram voar alto… mas também cair sem chão, perdido num vazio que insiste em ficar.E pergunto-me: qual foi a mensagem que não entendi? Que melodia traiçoeira me embalou, adormecendo-me na sede de um amor
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A amizade é um enigma gravado na pele, um labirinto de reflexos e sombras. Só existe um laço que me prende de verdade: quem poderia ser senão tu, meu reflexo sombrio, companheiro inseparável da minha própria natureza?És o único capaz de desafiar qualquer distanciamento social, mantendo-te ao meu lado como se todas as regras fossem
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No silêncio que envolve a noite, mergulhei num sono profundo. A tua presença surgiu, fulgente, como uma centelha que dança ao sabor do vento. O teu corpo, moldado em desejo, era oceano onde me desfiz. Sonhei-te nas ondas que embalam delírios, toquei-te com a leveza de quem ama sem medida. O mar, agitado, embalava-nos e
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Saudade. Aquela dor fininha que fica na alma, escorre pelas rugas formadas pelos olhos que choram para dentro, aquela dor que ninguém vê, porque a vida ensina a sorrir para fora.Dou-me muitas vezes a pensar como seria estar contigo, poder olhar nos teus olhos, tocar a tua pele, beijar teus lábios?Com todas as borboletas, dúvidas,
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Sou aquilo que a vida me pede para ser.Às vezes, carrego um riso leve, quase inocente; outras, deixo-me mergulhar na tristeza que pesa fundo.Sou uma alma inquieta, sempre faminta de sentir: ora de abraços que aquecem como lareiras, ora de beijos que queimam como labaredas.Há dias em que transbordo amor, como se não houvesse limites.
