Filipe Miguel
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Sonhos entrelaçam-se com lembranças, fragmentos de um tempo que nunca chegou a ser, mas que insiste em querer existir. Afago os meus medos neste lago onde a esperança ainda agita-se como folhas ao vento.É muito. É tudo. Mas basta, se for contigo.Estamos tão perto… e ainda assim, tão longe. As lágrimas que escorrem dos teus
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A neve cai e o silêncio abre caminho. Os bravos avançam, guiados pelo som dos tambores, enquanto à volta da fogueira os mais velhos falam das marcas que o tempo não conseguiu apagar.O vento atravessa o rio gelado e espalha folhas do castanheiro antigo, como memórias que se soltam. Um jovem ergue a voz: o
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Nos olhos da princesa habita uma tristeza discreta, mas luminosa como rubis apagados que ainda guardam o eco do brilho, esquecidos nas esquinas douradas da realeza. É um silêncio que fala, uma sombra que cintila.Um simples olhar de canto transforma-se em flecha. O amor não pede licença: chega de rompante, atravessa, rasga, deixa cicatriz. E
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Assusta-me este individualismo que se entranha como hera nas paredes da nossa geração. Egos inflados, vaidades sem freio, a corrida cega atrás da aparência, do conforto imediato, do objeto da moda que amanhã já não serve.Incomoda-me o vazio que se mascara em discursos bem ensaiados, mas que por dentro é pântano. Palavras bonitas ditas por
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Vejo, cá dentro, com olhos que quase ninguém vê, o nascer de algo novo. É como sentir que o amanhã já está a empurrar a porta, pronto para entrar. E, ao mesmo tempo, percebo que o agora se desfaz, muda de pele, respira diferente.Ouço, com atenção, sinais estranhos, quase enigmas que pedem tradução. Mas também
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Quando eu partir, não prendas as saudades ao peito. Atira-as ao mar, sem medo. Deixa que flutuem nas ondas, mesmo quando souberem a desgosto. Se as lágrimas teimarem em nascer, respira fundo e limpa o rosto: há coragem em quem sente.Semeia memórias nos prados discretos do teu coração. Guarda os pequenos instantes, as conversas esquecidas,
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Sonho contigo e és vertigem. Arrastas-me para o desconhecido, onde a noite deixa de ser refúgio e se abre como palco de aventuras sem medida. O descanso que prometi ao corpo dissolve-se, e sigo-te, mesmo sem mapa, mesmo sem luz.Para onde me levas? Caminho guiado apenas pelo instinto, num silêncio que pesa mais do que
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Havia quartos vazios onde o silêncio pesava mais do que qualquer mobília. Ali viviam histórias desfeitas, beijos frios como pedra, nascidos de erros que nunca deviam ter acontecido. O tempo, implacável, roubava-lhes dias, sonhos e esperanças, deixando apenas frustrações espalhadas como cacos de vidro.Foram aprendizes da vida, tropeçando, caindo, levantando-se. E, nesse caminho torto, encontraram-se.
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Às vezes, a vida parece um palco de ilusões. Tudo se dissolve como névoa: nada é sólido, nada é certo. É sonho? É fantasia?Pergunto-me se não será apenas a minha mente a inventar cenários, ou se vivo numa realidade mascarada de ficção. Estarei desperto ou apenas a sonhar de olhos abertos? E se, no meio
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Os sorrisos nascem como faíscas de luz: transparentes, lapidados, quase cristalinos. São moldados pela voz quente e alegre de quem os oferece, embalados numa melodia que parece vir do próprio céu. E, nesse instante, tornam-se intocáveis, eternos, sublimes.Não há curva mais bela no ser humano do que a de um sorriso verdadeiro. Ele não se
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Sorrio. Celebro as pequenas vitórias como quem acende uma fagulha no escuro. Choro. Deixo a verdade sair; a lágrima limpa, revela e reconstrói. Não desisto. Carrego a linha do que vale a pena e recuso tudo o que me possa esvaziar.Se o mundo se apresentar diferente do que procuro, não quero saber. Defendo o que
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Quando fecho os olhos, um devaneio acende-se e arde com vida própria; nesse instante onírico torno-me inteiro desejo. Sou terra que ancora, água que flui, vento que me empurra, sol que aquece e luar que sussurra segredos. Sou estrela que guia e folha de outono que se solta, arriscando o voo sem medo.Abro as asas


