Um dia decidi meter-me à conversa com o Tempo.
Assim, sem aviso. Perguntei-lhe porque é que ele andava sempre a correr.
Ele nem pensou duas vezes:
— O importante é amar. Viver sem te sentires sozinho. O resto passa.
E eu, teimoso, continuei com a mesma dúvida atravessada:
— Mas porque é que a vida é tão rápida?
O Tempo soltou uma gargalhada meio trocista, olhou à volta como quem procura palco, e virou uma cesta onde se sentou, todo convencido.
— Então? Estás a ver o tempo parado. O que é que fazes tu por mim?
Eu, meio atrapalhado:
— Ainda é cedo… vais ficar mesmo aí?
Ele riu-se outra vez, daquela forma desbragada de quem já viveu demasiado.
Balançava o corpo, meio bêbedo de sabedoria, enquanto me fitava como se estivesse a ver algo que eu ainda não tinha percebido.
— O que é que achas tanta graça? Porque é que não paras de rir?
O Tempo virou-se de lado, olhos esbugalhados, e quase rosnou:
— Tu é que me fazes parar. Tu é que me fazes andar.
— Estou contigo a vida inteira. Só tens uma. E eu vim aqui para te lembrar disso.
E antes que eu pudesse responder, o vento chamou-o, como se o Tempo tivesse sempre alguém à espera.
Ele levantou-se, piscou-me o olho e disse:
— Vou-te deixar. Mas lembra-te disto: vive para sempre quem ama.


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