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O Castelo da Poesia

Num dia de tempestade brutal, vi ao longe uma construção gigante, quase mítica. A poesia é esse castelo: relâmpagos iluminam-lhe as paredes gastas, mas a chuva dá-lhes uma suavidade estranha, quase mágica.
Entrei. Procurei abrigo. Mas não era só abrigo, era território dos meus demónios. Eles vagueavam pelos corredores, à minha procura, a tentar roubar-me o sono. E eu, perdido, perguntava: porque é que estou aqui? Que propósito tem a poesia para mim?
As paredes estavam cobertas de mensagens. William Shakespeare, Pablo Neruda, Bukowski, Bocage, Drummond, T. S. Eliot, Fernando Pessoa, José Saramago, Arthur Rimbaud… nomes que não se choram, mas que se gravam. Cada palavra parecia chamar-me, como se esses mestres me tivessem encontrado ali, mesmo desencontrados no tempo. Os seus passos ecoavam para além da mortalidade, como se dissessem: “Estamos contigo, continua.”
E eu pensei: um dia, alguém vai entrar neste mesmo castelo. Vai ler o meu nome ao lado dos deles. Vai sentir os meus suspiros gravados nas paredes. Vai perceber que também lutei, também sonhei, também escrevi.
Talvez haja lugar entre as estrelas para mim. Talvez a minha voz ecoe para sempre neste castelo de poesia.


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