Filipe de Luar

Às vezes uso o sono como bilhete de entrada. Entrada para um mundo onde não me falta nada.
É um universo de sonhos, mas não daqueles vagos que se esquecem ao acordar. São sonhos que se vivem de olhos abertos, ou que se escondem entre duas páginas de um livro por acabar.
Nesse espaço posso ser tudo o que me passa pela cabeça. Sem limites, sem travões. Posso imaginar-me engenheiro, médico, professor. Cientista brilhante, génio da matemática ou inventor maluco. Descobrir curas impossíveis, até para a tristeza ou para o desamor.
Mas também há dias em que fico nesse mundo só porque preciso. O sono é reparador, recarrega, devolve energia como nenhum remédio consegue. É bálsamo, é reset.
E quando regresso, meio ensonado, ainda a meio caminho entre o real e o imaginado, fico a pensar: que escolha diabólica é esta, entre viver desperto ou continuar a sonhar?

• Filipe de Luar