As palavras são como sopros invisíveis que atravessam o ar e se instalam em nós, leves ou pesadas, doces ou cortantes. Trazem consigo a força de criar e de destruir, de erguer pontes ou de as reduzir a cinzas. Há palavras que chegam sem aviso, como folhas levadas pelo vento, e outras que são lançadas com a precisão de uma flecha, atingindo o coração de quem as recebe. Umas iluminam como ouro ao sol, outras cintilam como diamantes raros, mas também existem as que se quebram em estilhaços, tal como o vidro que, ao partir-se, nunca mais volta a ser inteiro.
No entanto, as mais intensas não precisam de som. São ditas no silêncio de um olhar, onde a alma se revela sem máscaras. O olhar é a linguagem primordial, anterior a qualquer verbo, capaz de dizer o indizível e de guardar segredos que a boca não ousa pronunciar. É nesse instante que percebemos que as palavras, tantas vezes, são apenas ecos imperfeitos daquilo que sentimos.
E então surge a pergunta: para que servem as palavras, se o silêncio pode conter mais verdade do que mil discursos? Talvez sirvam para nos aproximar, para nos lembrar de que somos frágeis e humanos, para nos dar a ilusão de que conseguimos traduzir em sons aquilo que nos transborda por dentro. Mas também nos recordam que há limites na linguagem, que nem tudo se explica, que nem tudo se diz.
Assim, as palavras são paradoxais: podem ser ferida e cura, prisão e liberdade, peso e leveza. São matéria viva, moldada pela intenção de quem as pronuncia e pela escuta de quem as recebe. No fim, resta-nos compreender que o essencial não está apenas no que dizemos, mas no modo como deixamos que o silêncio, o gesto e o olhar completem o que a língua não alcança. Porque é nesse espaço invisível, entre o dito e o não dito, que a verdade mais profunda se revela.

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O silêncio grita
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