Filipe de Luar

A saudade é ferida aberta, das mais difíceis de fechar, uma dor antiga que o peito guarda e que não sangra mas arde. É presença silenciosa que nos visita nos minutos banais, numa música que passa, num anúncio na rua, num braço vazio ao acordar. Às vezes parece a pior dor porque junta lembrança e falta num mesmo fôlego.
O amor pela manhã é antídoto e mapa. O beijo ao acordar reacende, ilumina o dia e resume tudo o que vale a pena, pequenos gestos que costuram a vida. Viver ao teu lado é coleccionar amanheceres, repetir promessas com voz baixa, transformar rotina em promessa. Acordar contigo apaga, por instantes, o peso da tristeza e devolve cor ao mundo.
A saudade caminha de braço dado com a solidão; sussurra, tenta roubar-nos pedaços de riso e dias que já não voltam. Por outro lado, não é inimiga absoluta: faz lembrar, faz cuidar, faz sentir a urgência de não desperdiçar o agora. Além disso, pode ensinar a medir melhor o que importa.
O remédio do coração não é um gesto único; é prática diária. Fé, não só religiosa, antes confiança na vida e esperança activa ajudam-nos a enfrentar. Enfrentar significa aceitar a dor sem lhe dar todo o espaço, partilhar os bons momentos, criar rituais que devolvem sentido. Se tivermos cabeça fria e coragem, damos a volta, seguimos em frente e aprendemos a conviver com a ferida sem sermos definidos por ela.
A saudade fere fundo e não se cura com pressa, mas o beijo matinal, o riso partilhado, os pequenos gestos são sol que nos reacende. Para jovens, isso traduz-se em honestidade direta: não finjas que passa: vive, fala, parte as coisas com quem importam. Para quem procura elegância nas palavras, escolhe silêncios bem medidos e metáforas que alonguem o fôlego sem peso.
A ferida ocupa um lugar, mas não ocupa a vida inteira. O coração aprende a respirar entre as ausências, a encontrar consolo nas rotinas e nos amanheceres. Há coragem em continuar, há cura em persistir. Escreve, fala, partilha, porque um texto que toca e ensina é aquele que se espalha, que brilha como fogo em palha seca, e aquece quem o recebe.

• Filipe de Luar