Filipe de Luar

Existem instantes em que o tempo nos roça como uma brisa do mar, leve e sem pressa. Nessas horas tudo se ilumina: a vida revela-se mais bela quando aquilo que guardamos no peito se traduz em verdade exposta. É um segredo reencontrado que se espalha num sorriso e aquece quem o recebe.
A vida fica mais bonita quando deixamos a alma falar alto. Mostramos o que trazemos por dentro e, de repente, pequenas coisas ganham cor; olhares, gestos e palavras tornam-se pontes. Há segredos ternos que voltam à tona e permanecem, prontos a serem partilhados.
Houve noites em que as lágrimas caíram como chuva inesperada, tentando varrer memórias que teimavam em ficar. Rompi objetos e relações; senti o peito transbordar de tristeza; ainda assim, não me escondi debaixo dos lençóis. Levantei-me, sacudi a alma e encarei o dia com a vontade firme de vencer cada obstáculo.
A tristeza ensinou-me a não me refugiar na inércia. Por outro lado, ensinou-me também a reconhecer limites e a pedir descanso quando as forças falham. Acordo cedo, estico os braços e decido recarregar baterias; há dias para entregar e dias para recuperar.
O sonho instala-se em mim como um costume doce: bocejo, espreguiço e percebo que o corpo precisa de carga. Os bons momentos regeneram; os momentos difíceis educam. Acreditar não é ingenuidade, é coragem silenciosa; sonhar é um privilégio gratuito que transforma dias cinzentos em possibilidades.
A vida tem destas voltas, altos e baixos que nos moldam. Às vezes parti coisas no exato compasso do coração cansado; outras vezes construi, com paciência, novas pontes. Cada ciclo traz um ensinamento: há resistência onde havia fragilidade e há leveza onde antes havia peso.
Quando mostro o que trago, encontro comunhão. Um sorriso faz-se mapa, uma palavra cria abrigo. Além disso, a partilha multiplica a alegria e reduz o fardo da saudade. Sonhar e acreditar devolvem sentido ao cotidiano; são dádivas simples que não se compram.
Não me vou esconder da vida nem dos seus espinhos. Levanto-me com determinação, aceito o cansaço e acolho a esperança. É assim que, entre lágrimas e risos, construo um caminho que vale a pena trilhar. A vida tem destas coisas, e é nessa mistura que encontro a sua graça.

• Filipe de Luar