O tempo escorre por mim como um rio que nunca dorme. As horas são gotas que deslizam pela pele da memória: algumas frias e silenciosas, outras quentes e ruidosas, como se cantassem histórias que nunca chegaram a acontecer.
Há dias em que esse rio parece um espelho partido: cada fragmento reflecte uma versão de mim que já não reconheço. Fui inteiro, fui metade, sou agora um intervalo entre o que procuro e o que nunca me encontrou. E nessa procura, há uma margem que se afasta e outra que se esconde. O tempo não espera, mas também não esquece.
Construo, então, uma ponte. Não de pedra, mas de desejos. Cada passo é um pensamento, cada tábuas são palavras que nunca disse. Essa ponte liga o que sinto ao que temo, o que sonho ao que deixei por viver. É frágil, sim, mas é minha e nela repousa a esperança de que o tempo nos conceda mais um instante, mais um olhar, mais uma vida.
Porque há encontros que não precisam de lugar, apenas de tempo. E há sentimentos que, mesmo sem nome, acendem luzes onde antes só havia sombra.

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O tempo passa, mas não esquece
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