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Quando o silêncio fala mais do que eu

As janelas do meu quarto são tímidas.
Só se abrem quando o silêncio é tão profundo que até os pensamentos se calam, como se estivessem à espera de um grito que nunca chega.
Ficam suspensas, à escuta, desejosas de algo novo que as desperte.
Mas nem elas gritam.
Nem eu.
Ficamos os três, eu e as duas janelas, presos a este corpo que continua a ser apenas um nome dentro de um homem só.
E, mesmo assim, desse lugar imóvel, vejo mundos inteiros lá fora.
Vejo ruas que nunca pisei, vidas que nunca vivi, sonhos que talvez fossem meus noutra versão de mim.
E dentro de mim?
Dentro de mim há outros mundos ainda maiores, alguns perfeitos, outros desfeitos, alguns em construção, outros já em ruínas.
As janelas do meu quarto só se fecham quando o mundo resolve falar.
Quando o barulho é tanto que acaba por se transformar em silêncio.
Um silêncio diferente, não o que acalma, mas o que pesa.
Um silêncio feito de pressa e de medo, ou de medo com pressa.
E então volto a ficar ali.
Entre o abrir e o fechar.
Entre o dentro e o fora.
Entre o que vejo e o que sinto.
Com as janelas do meu quarto sempre à espera que alguém, nem que fosse só uma vez, tenha coragem de gritar.

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