O amor é talvez a linguagem mais antiga e, ao mesmo tempo, a mais inacabada. Não se esgota em palavras, mas procura nelas abrigo. Cada gesto, cada silêncio, cada memória pode ser uma forma de dizer “amo-te” e, no entanto, nenhuma é suficiente.
Dizer “amo” pode ser apenas o reflexo de uma mente que insiste em regressar sempre ao mesmo nome. Pode ser o impulso de partilhar o que deslumbra, como se a beleza só se cumprisse quando oferecida. Pode ser a lembrança que se inscreve no instante de repouso, quando o rosto de alguém se torna a última imagem antes do sono. Ou pode ser o desejo de reter um perfume, como se o efémero pudesse resistir ao tempo.
Dizer “amei” é reconhecer que o passado também guarda eternidade. Está nas renúncias silenciosas, invisíveis a quem olha de fora. Nos planos de futuro que se desenharam a dois, mesmo que o futuro tenha seguido outro rumo. Está no gesto de escolher a presença em vez da distração, no olhar que substitui qualquer ecrã. E está, sobretudo, na esperança íntima de prolongar a vida em outros corpos, em outros nomes.
Dizer “amarei” é afirmar que o tempo não limita o sentimento. É a impossibilidade de esquecer, mesmo quando tudo convida ao esquecimento. É o cuidado que permanece, mesmo quando já não há mãos que se toquem. É o desejo de ver a felicidade do outro, ainda que distante, ainda que sem retorno. É a promessa que se cumpre no silêncio, porque não precisa de testemunhas.
Mas há uma fronteira que nenhuma forma de amor consegue atravessar: a ausência. O vazio de não ter não se preenche com palavras, nem com memórias, nem com promessas. É um espaço onde o amor se transforma em eco, mas não encontra corpo. E é nesse vazio que se revela a sua verdade mais dura: o amor existe, mas não responde à ausência.

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Amei, amo e amarei
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