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Aquele sonho que não parte

No silêncio que envolve a noite, mergulhei num sono profundo. A tua presença surgiu, fulgente, como uma centelha que dança ao sabor do vento. O teu corpo, moldado em desejo, era oceano onde me desfiz. Sonhei-te nas ondas que embalam delírios, toquei-te com a leveza de quem ama sem medida. O mar, agitado, embalava-nos e o querer florescia, urgente, sem travões.
Cada gesto dava forma ao sonho. Em ti, entrei com alma em combustão, num amor sem fronteiras. Era o instante suspenso onde tudo se alinhava. Os corpos encontravam-se, intensos e harmónicos, como acordes de uma melodia que só o íntimo compreende. Mas, subitamente, desperto. Ofegante. Vazio. Onde estás?
Mesmo acordado, permaneces em mim. Navego por pensamentos que te procuram, como embarcação à deriva em mar aberto. Que me encontres depressa. Que te entregues. Porque este sonho, por mais vívido que seja, sabe a pouco. Perco-me nas ondas, entre o que foi e o que poderia ter sido.
O silêncio que me rodeia não é serenidade, é clamor contido. Uma erupção de ausência, uma dança lenta sob nevoeiro. A angústia instala-se, persistente, como sombra que não se dissipa. Os pensamentos, outrora vibrantes, desbotam. As notas hesitam, os sorrisos vacilam. Tudo se torna branco, suspenso, imóvel.
Ainda assim, na penumbra, há lume. Os devaneios densos, os sentimentos turvos que invadem o sono, não extinguem a esperança. As narrativas duras, como muralhas, não anulam o poder do sonho. Porque ele resiste teimoso e intacto.
Em breve, voaremos. Tu e eu. Num novo sonho, mais límpido, mais nosso. Onde o amor não se perde nas marés, mas ergue-se como um farol. Onde o silêncio não sufoca, mas canta. E onde a alma, enfim, repousa.

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