Fica um momento, ainda que escondido do mundo, como quem se refugia num trilho remoto, longe de tudo o que pesa e prende. Nesse instante, não importa o tempo nem o lugar, apenas a suspensão do que somos.
As palavras do passado desfazem-se. Os verbos que carregavam perfeição tornam-se frágeis, caindo como pássaros imperfeitos que se soltam do alto das rochas. Tudo o que parecia fixo dissolve-se, deixando espaço para o vazio que acolhe.
Fica um momento, breve e desajeitado, mas suficiente para desfazer o olhar de sempre, o olhar que condiciona e limita. Nesse instante, deixo-me cair num leito transitório, onde a revolta se mistura com a entrega e tudo se torna mutável.
As marcas que ficaram pelo caminho perdem importância. As pegadas antigas, os ecos que embrutecem, os sinais de fumo de amores desfeitos, tudo se apaga diante da urgência de permanecer só neste agora, no território nu do desejo não domesticado.
Fica um momento para que o silêncio confesse a fragilidade das certezas. Que nesse silêncio eu me desfaça, não em derrota, mas em prece, uma prece que não pede, apenas reconhece a insensatez de querer o eterno no que é fugaz.
Fica um momento. Apenas isso. Porque nesse momento breve cabe a eternidade inteira.

Anúncios
A eternidade de um momento
Anúncios
Deixe um comentário