Há um momento na vida em que escolher é urgente: mudar ou desaparecer. Chega um ponto em que o caminho termina para trás e retroceder já não é opção; acontece a muita gente. Aconteceu-me a mim.
Lembro-me de estar estendido, sem força, como num caixão aberto ao mundo. Ninguém me estendeu a mão, ninguém me lançou uma corda. Fiquei ali, imóvel, a olhar para a claraboia; fixei o olhar no pequeno quadrado de céu e vi o azul límpido, tão claro que parecia vontade. Vi-me, cara a cara, com algo maior do que eu e, naquele instante, senti uma mão invisível que me salvou.
Não foi um milagre instantâneo nem um gesto dramático de cinema. Foi uma escolha. Uma decisão mínima que mudou o rumo: levantar o queixo, arrumar o medo, aceitar que a vida pedia presença. Quando percebi que podia alterar a rota, deixei de ser vítima do meu próprio passado. Sobrevivi porque escolhi. Sobrevivi porque escolhi recomeçar.
Há quem espere por um salvador; eu aprendi que às vezes o salvador é o momento em que nos vemos com honestidade. O tempo a sós dá respostas, mas não há cura completa sem acto. É preciso pôr o corpo em movimento: pedir ajuda, falar, recusar o silêncio que enrola o pensamento. Um passo de cada vez, um gesto verdadeiro, um abraço aceitado.
Hoje sei que a clareza nasce do confronto. A claraboia não me deu tudo; deu-me visão. Coube-me a mim caminhar. Se conheces esse ponto em que o caminho se bifurca, lembra-te: não estás condenado. Mudar exige coragem, não piedade. Mudar pede mãos, às vezes as nossas próprias e uma vontade firme de continuar.
E quando a noite voltar a apertar, olha para cima. Procura o azul. Respira. Escolhe viver.

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Quando a vida te obriga a mudar
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