Não sei onde guardar o sol que trouxe da praia, nem onde semear o tempo que me sobra até que a lua te roube o olhar. A saudade jaz na calçada fria, deixa-se levar pelo vento e, num sopro, encaminha os teus passos até minha casa.
De olhos fechados, esqueci-me de espreitar a noite que se aproximava, solene, a vestir-te de silêncio. O teu corpo encontrava refúgio no meu, e nesse abrigo simples havia mais verdade do que em qualquer palavra que tentei escrever.
Já não consigo abarcar tudo o que sou. Escrevo-me, mas falta-me sempre a palavra certa para te traduzir. Há uma linguagem secreta entre nós que só o coração decifra e ainda assim, falha.
Sou metade incompleta, mas quando estás, a equação resolve-se. Tu és a parte que me falta, o inteiro que transforma a ausência em plenitude.
Não sou o que escrevo. Sou o que tu lês em mim. E talvez seja aí que nasça a eternidade no espaço invisível entre a minha palavra e o teu olhar.

Anúncios
Sou o que tu lês em mim
Anúncios
Deixe um comentário