Sobe devagar, quase sem se ouvir, o ascensor que parece mais feito de suspiros do que de ferro. Move-se naquela cadência calma, onde a mecânica se confunde com um ritual. Cada estalo das ripas robustas ecoa como uma memória antiga, como se a madeira guardasse dentro de si os murmúrios de todas as viagens já feitas. O som não incomoda, antes embala; um roçar manso que amansa a escuridão suave, deixando apenas um halo ténue, uma penumbra que respira e se expande como se fosse viva.
Nesse espaço suspenso, a vida parece caminhar ausente, perdida entre os degraus invisíveis de um tempo que sobe e desce, sempre igual. O ascensor é paradoxo: avança e recua, sobe e afunda, como se carregasse em si o peso de todos os começos e todos os fins. Cada movimento é uma espécie de oração mecânica, um suspiro que sopra sempre para cima e para baixo, como se quisesse provar que não há cimo sem fundo, nem fundo sem regresso.
Quando a viagem chega ao seu limite, não é verdadeiramente um lugar que se alcança. O “acima” é feito de nenhures, o “abaixo” é parte alguma. Ambos são apenas reflexos um do outro, espelhos partidos onde o destino se disfarça. No instante em que as portas abrem, não há chegada, há apenas a vibração de um vento quente que choca contra a pele fria, deixando um arrepio leve, como dedos invisíveis a roçarem na pestana.
É nesse sopro, nesse breve contacto, que se sente a estranheza da viagem: anda-se no andar do destino sem nunca se encontrar no fado. A vida parece deslizar por entre cabos e correntes, como quem vagueia sem mapa, sem rumo, apenas entregue ao movimento constante de subir e descer. O ascensor torna-se metáfora: somos passageiros de um percurso que nunca revela para onde leva, mas que insiste em nos mover e é nesse movimento, inquietante e hipnótico, que talvez resida o verdadeiro sentido de existir.
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O Ascensor da vida
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