A água fria beijava-me os pés descalços.
Cristalina, mas carregada de silêncio.
Na imensidão, percebi: até o mar conhece a solidão.
Milhares de vidas vagueiam no azul profundo, cada uma perdida no seu rumo, alheia à grandeza que as envolve.
E, ainda assim, nas ondas suaves, o mar parecia convidar-me a dançar.
Entendi então que até ele, eterno e imenso, chorava.
Gritava em silêncio, como eu, à espera de ser ouvido.
Uma brisa roçou-me o rosto.
Uma lágrima caiu sem pedir licença e fundiu-se na água, como se sempre tivesse pertencido ali.
Hoje sei: mesmo rodeado de gente, a alma só quer dançar ao pôr do sol e sentir que nunca esteve realmente só.
Caminhei apressado.
As malas pesavam, cortavam-me os dedos, mas não parei.
Corri até à porta, larguei tudo, revirei os bolsos, a chave fugia-me como quem brinca às escondidas.
Abri de rompante, empurrei as malas e saí.
Inspirei fundo. Estava mais leve, mas não o suficiente.
A distância até ti era curta, mas cada passo parecia infinito.
O coração acelerava como numa corrida sem fim.
Quase perdi o ar.
E então, finalmente, a praia.
Quase deserta.
O céu tingido de laranja.
O som do mar a embalar o silêncio.
Suspirei. E nesse instante, o coração sossegou.
Era ali.
Aquele momento único em que podia dizer: estou em casa.
Prometi nunca esquecer a tua cor, a tua energia, a tua essência.
Cada regresso era como a primeira vez, mesmo sabendo que sempre estiveste ali.
Sentei-me.
Deixei-me ficar. Minutos, talvez horas.
O tempo deixou de existir.
Alguém chamou ao longe, mas era só um eco distante.
Fiquei imóvel.
Porque ali estava a força que eu precisava.
E percebi, de repente, o que significava simplesmente estar.

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Quando o mar também sabe estar só
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