Olho o mar.
Vejo-o inquieto, a avançar timidamente até mim, para logo recuar e perder-se no azul do horizonte. Repete-se, incansável. Aproxima-se, afasta-se, como quem quer falar e não encontra coragem.
As ondas enrolam-se, desfazem-se na areia, voltam a tentar.
Há nelas uma teimosia antiga, a mesma que moveu os portugueses a partir, sem garantias, guiados apenas por sonhos maiores que o medo.
Eu, contento-me em observá-lo.
Basta-me olhar e sonhar com o dia em que decifrareio segredo que o mar guarda — como convenceu um povo inteiro a acreditar em mundos escondidos para lá da linha do horizonte.
A água fria beija-me os pés descalços.
Cristalina, mas carregada de silêncio.
Na sua imensidão, descubro que até o mar conhece a solidão.
Milhares de vidas vagueiam no azul profundo, cada uma perdida no seu destino, alheia à grandeza que as envolve. E, ainda assim, nas ondas suaves, o mar convida-me a dançar.
Percebo então: até ele, eterno e imenso, chora.
Grita em silêncio, como eu, à espera de ser ouvido.
Uma brisa toca-me o rosto, uma lágrima escapa-me sem licença e mistura-se nas águas — como se sempre tivesse pertencido ali.
Hoje sei: mesmo rodeado de gente, a alma pede apenas isto — dançar ao pôr do sol e sentir que nunca esteve verdadeiramente só.
Caminho apressado, carregado de malas que pesam como fardos antigos. Os dedos doem, mas não paro.
Corro até à porta, largo tudo, procuro a chave que se esconde como criança traquina.
Abro de rompante, empurro o peso e saio.
Inspiro fundo.
Sinto-me mais leve, mas ainda não é o suficiente.
A distância até ao mar é curta, mas cada passo parece infinito. O coração dispara como se corresse contra o tempo.
Quase me falta o ar.
E então, finalmente, a praia.
Quase deserta.
O céu pintado de laranja.
O som das ondas a embalar o silêncio.
Suspiro. E nesse instante, o coração encontra paz.
Era ali.
Aquele momento único em que podia dizer: estou em casa.
Prometo nunca esquecer a cor, a energia, a essência do mar.
Cada regresso é como a primeira vez, mesmo sabendo que ele sempre esteve ali, à espera.
Sento-me.
Deixo-me ficar.
O tempo deixa de contar, alguém chama ao longe, mas soa apenas como um eco distante.
E eu fico.
Porque é aqui que encontro a força que me sustenta.
E descubro, de repente, o segredo maior: o que significa simplesmente estar.

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Aprender com o Mar
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