Anúncios
Anúncios

Entre jaulas e memórias

Reformado e sem aulas, sinto que a vida se transformou numa espécie de prisão. Olho à minha volta e vejo as jaulas onde antes me movia, rodeado de tigres e leões. A intensidade das emoções que sentia agora parece um eco distante, quase como uma memória desvanecida. Os meus dias eram preenchidos por conversas sobre economia e história, embora a memória, agora, se mostre escassa e nebulosa.
À porta, o inverno aproxima-se, com a sua frieza e melancolia, e temo que esta estação se arraste eternamente. Quando me encaro no espelho, sinto a sua crítica: a imagem refletida já não é a de um jovem, mas a de um homem envelhecido. O tom autoritário do calendário não deixa margem para dúvidas; os dias passam a correr e eu, por vezes, perco a paciência. É uma paciência que sempre considerei nobre, muito mais do que a inocência perdida.
A vida, com todos os seus atropelos e arrelias, já me apresentou melhores dias. Recordo momentos de alegria e conquistas, e agora, o peso do presente parece desmesurado. É um contraste pungente que me leva a refletir sobre o que foi e o que ainda poderá ser.

  • Filipe Miguel

Deixe um comentário