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Roubaram-nos o tempo

Roubaram-nos os segundos, os minutos, as horas. Os dias escorregaram entre os dedos, meses passaram-se sem que os conseguisse sentir, e anos voaram como folhas ao vento. Não foram apenas os números que me tiraram; foram os beijos, as carícias, a cumplicidade que faziam do nosso amor um abrigo. Lembro-me das noites em que a entrega era total, quando a insónia era só mais uma desculpa para ficarmos juntos, a sonhar acordados.
Levaram-me os sonhos, os planos que traçámos com tanto cuidado, e até a vontade de sorrir. Tiraram tudo o que poderiam, deixando apenas um eco do que éramos, como um retrato desbotado numa parede esquecida. Agora, sinto-me tão vazio. O que sobrou de nós, do que fomos e do que estávamos a construir? Apenas este buraco profundo, este coração frio, que parece um deserto, sem vida, sem cor.
Roubaram-nos tudo o que tínhamos e deixaram-me com nada. Quando apresentei queixa, esperava justiça, mas tudo acabou por ser arquivado, como se as minhas palavras fossem apenas ecos numa sala vazia. Não fui eu a cometer este crime, mas fui eu que acabei preso, obstinado, nesta situação insuportável.
Se era para ser assim, que me deixassem ter-te comigo nesta prisão, onde a saudade torna-se uma corrente invisível que me aprisiona ainda mais.

  • Filipe Miguel

Uma resposta a “Roubaram-nos o tempo”

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