Fecho a janela, sentindo o ar fresco a entrar. A temperatura está a arrefecer, e com isso, um frio insistente começa a gelar o meu coração. Do lado de fora, ouço os pingos de chuva a cair, um som rítmico que, de alguma forma, acalma. Eles deslizam pelas janelas, e, sem qualquer demora, deixo que a melodia da chuva me envolva.
O vento sopra forte, arrastando folhas e pequenos detritos, criando um barulho ensurdecedor à minha volta. Sinto que a razão se aproxima, como se a tempestade trouxesse consigo uma clareza inesperada. O rio, lá em baixo, segue irrequieto, a sua correnteza a protestar contra as margens. Assim como ele, o meu coração não sossega no peito; palpita num ritmo acelerado, quase como se quisesse fugir.
Já se ouvem os primeiros trovões, um eco distante que reverbera nas paredes. Eu só anseio que a noite se dissipe e que o dia venha trazer consigo o calor do Sol. De repente, a escuridão toma conta do ambiente, e os relâmpagos cortam o céu, iluminando brevemente o cenário sombrio. Nesta penumbra, sinto o medo a crescer, enquanto estremeço, incapaz de encontrar o luar que deveria guiar os meus passos.
Os cães na rua uivam, como se compartilhassem o meu receio, aterrorizados pela tempestade que se aproxima. E eu, ali sentado, sinto-me quase nu perante a tragédia que se desenrola. Fecho os olhos e rezo uma oração silenciosa, implorando por um pouco de calma que possa sossegar o meu corpo e tranquilizar a minha alma.
Agarro os segundos que se arrastam, como se quisessem escapar da minha mão, brincando numa dança suave entre os meus dedos. Com um suspiro profundo, fecho os olhos, permitindo que a escuridão me abrace. Aninho-me nos cobertores, procurando o calor do desejo de paz.
A tempestade, estou certo, irá passar; um novo dia está a caminho. Que o Sol brilhe com alegria, que a paz regresse e que surjam salpicos de fantasia. É tempo de fazer a magia acontecer.
- Filipe Miguel

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