Estou aqui, parado, e sinto o leve bater do vento contra o meu peito. É curioso, mas parece que trago comigo uma flor. Não, não é uma flor qualquer. É uma que roubei de um jardim, há muito tempo. Lembro-me bem desse momento. O sol estava a baixar, o céu tingido de laranja, e, sem que ninguém notasse, peguei nela e guardei-a, bem junto ao peito, do meu jeito. Ali, num canto escondido da alma.
Ouvi dizer que sou como o vento. Ando por aí, sem destino certo, a viajar com as marés, à deriva. Não me prendo ao tempo, talvez porque ele nunca quis saber de mim. Sigo uma fé diferente, talvez várias, quem sabe? Não tenho medo de me perder, porque sei que vou encontrar-me de novo, onde menos esperar. A cada amanhecer, renasço. É como se, de alguma forma, a noite me apagasse, mas o nascer do sol me trouxesse de volta. Uma quimera, talvez? Pode ser. Mas não me importo.
E sei que, assim que o sol voltar a aquecer a terra, a primavera chegará. Não só nos campos, mas dentro de mim também. Porque, como a flor que carrego comigo, também eu floresço, todos os dias, de maneiras diferentes.
Agora, fecho os olhos e sinto o cheiro das flores a despontar. O aroma fresco da terra, o som suave do vento a soprar entre as árvores, e, por um momento, sou apenas eu e o mundo.
- Filipe Miguel

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