Às vezes, dou por mim a contemplar o que não controlo, o que não está ao meu alcance. O vento que sopra forte lá fora, trazendo consigo as nuvens e levando os meus pensamentos para longe; os sonhos que me visitam à noite, mas que nunca consigo agarrar; e o mar, vasto e indomável, que se estende para além do horizonte, como um mistério que nunca vou desvendar.
O tempo, esse então, é o maior de todos os enigmas. Os dias passam sem que eu os consiga travar, cada um mais fugaz que o anterior, como areia a escorrer-me por entre os dedos. E, no meio desse passar ininterrupto, a saudade cresce em mim como uma planta teimosa que se enraíza no fundo do peito.
Falo de liberdade, mas sinto-me como uma flor presa no teu jardim. Uma flor que, apesar de querer desabrochar, encontra-se sempre à tua sombra, incapaz de se libertar completamente. O ar que respiro, mesmo esse, traz consigo o teu nome, e a cada suspiro meu, é de ti que me lembro, é por ti que anseio.
E o coração, o meu coração… Ah, esse é um capítulo à parte. Não o domino, tal como não domino o teu. Se o dominasse, se tivesse o poder de te chamar para mim, sei que não fugias, sei que não me escapavas. Mas a verdade é que estou à mercê dos ventos, dos sonhos, do tempo e do mar. Estou à mercê do que sinto, do que não controlo, preso, sim, mas ainda assim, a viver, a sentir, a sonhar… contigo.
- Filipe Miguel

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