Encontrei a solidão sentada à minha porta numa tarde em que o vento frio soprava insistentemente, como se quisesse entrar pela casa adentro. Ela estava lá, encolhida, quase sem forças. Chamei-a, e num impulso, estendi-lhe a mão. Ela parecia tão frágil, quase se desfazendo. Quando a toquei, senti o quanto estava exausta, como se a vida lhe tivesse sido roubada, um pouco a cada dia.
A solidão gritou, um som que ecoou nas paredes vazias ao meu redor, como se quisesse libertar-se do peso que carregava. Fiz-lhe companhia, sentei-me ao seu lado e deixei que as horas passassem, sem dizer uma palavra. O silêncio entre nós era pesado, mas ao mesmo tempo, parecia reconfortante.
De repente, a solidão começou a chorar. As lágrimas, grossas e quentes, deslizavam-lhe pelo rosto pálido, revelando toda a dor que ela tentava esconder. Aproximei-me mais, e num gesto instintivo, abracei-a com suavidade. Senti o seu corpo tremer contra o meu, como se estivesse a desmoronar-se, e limpei-lhe as lágrimas que continuavam a cair. Naquele momento, não havia palavras que pudessem aliviar a sua angústia, apenas o meu abraço, que se tornou o único abrigo para a sua dor.
A intensidade da emoção era quase palpável. Agarrei-me a ela, não queria que se perdesse novamente no vazio. Queria segurá-la, compreendê-la, saber o que a atormentava. Ai, solidão, o que é isso que te faz sofrer tanto? Porque te deixas consumir assim? Tens tantas feridas abertas, tantas fendas nas tuas paredes, que mesmo tentando ocultá-las, acabam por te despedaçar um pouco mais a cada dia.
E desde aquele dia, a solidão nunca mais me largou a mão. Passou a fazer parte de mim, da minha vida. Agora, somos companheiros inseparáveis, amigos de peito. As nossas histórias, marcadas por um passado imperfeito, entrelaçam-se como notas de uma mesma canção. Já não a temo, nem a rejeito. Aceitei-a, e ela, em troca, deixou de ser uma inimiga silenciosa para se tornar numa parte de quem sou. Juntos, percorremos os caminhos da vida, em harmonia, como duas vozes que se completam numa melodia íntima e profunda.
- Filipe Miguel

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