Não sei bem como explicar, mas sinto-me a perder o sentido do tempo, como se ele tivesse decidido seguir em frente e me deixasse para trás. Às vezes, pergunto-me se fui eu que perdi o tempo ou se foi o tempo que, simplesmente, me perdeu.
Deixei que o outono chegasse, mas não como de costume. Desta vez, as folhas não caíram como era de esperar, e eu fiquei aqui, à espera daquele aconchego que nunca chegou. O Sol, que normalmente trazia um calorzinho mesmo que suave, não apareceu. O calor evaporou, sem aviso, como se o inverno tivesse chamado por ele antes do tempo.
O vento, que tantas vezes rugiu em dias de tempestade, também deixou de soprar. Aqueles dias de chuva intensa, que outrora pareciam intermináveis, rapidamente se desvaneceram. Foi tudo tão rápido, tão inesperado. E eu? Eu não acordei para viver esses dias, nem me deixei adormecer para os esquecer. Fiquei suspenso entre a vigília e o sono, num estado de letargia.
Não comi, nem bebi. O meu corpo permaneceu imóvel, a minha mente desligada. E no meio desse torpor, não te senti. Não houve calor, não houve toque. Apenas o vazio. Pergunto-me se o tempo emigrou para longe, ou se simplesmente parou, cansado de se mover sem ti por perto. Talvez tenha ficado ali, imóvel, assim como eu fiquei, à espera de algo que, no fundo, sabia que não viria.
É uma sensação estranha, como se o mundo ao meu redor tivesse perdido o ritmo, e eu estivesse apenas a flutuar, preso num instante infinito. Longe de ti, o tempo perdeu-se. E eu, talvez, tenha me perdido com ele.
- Filipe Miguel

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