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Vazios humanos

A inabalável inquietação que permeia a essência humana reside na sua infinita insatisfação, uma característica pertencente à sua natureza. Reconhecemos de forma coletiva a nossa imperfeição, compreendendo que esta não é apenas inerente à condição humana, mas também alinha-se harmoniosamente com o nosso propósito fundamental.
Na caminhada da vida, deparamo-nos com situações que suscitam reflexão, levando-nos a uma conclusão reveladora: a perfeição não exige, obrigatoriamente, um sentido claro em todos os seus aspetos. Em certos momentos, somos colocados à prova, e as decisões que tomamos nem sempre refletem o discernimento mais acertado. O medo, por vezes, paralisa-nos, enquanto noutras nos acomodamos, e, ao olharmos retrospectivamente, lamentamos oportunidades valiosas que se dissiparam pela falta de ação no momento oportuno. Existem ocasiões em que a vida, impiedosa, nos recusa uma segunda oportunidade.

A carência de coragem representa uma privação de momentos e oportunidades singulares. O desafio reside no primeiro passo; após este passo crucial, o horizonte de possibilidades desdobra-se vastamente. A ausência de coragem, entrelaçada ao medo, configura-se como o obstáculo primordial a ser ultrapassado.
Viver um dia de cada vez torna-se imperativo, pois, independentemente dos desvios e contornos que enfrentamos, se alguma coisa está destinado a acontecer, assim será. A fuga constante é impossível; chegará o momento em que confrontaremos as nossas realidades, sem uma aparente saída.
Frequentemente, as práticas de meditação dão respostas para o vazio existente. É nesse estado que as soluções se revelam, exigindo a sua reflexão. Contudo, é igualmente crucial cultivar uma dose generosa de fé e um amor-próprio sincero, dirigidos tanto a nós mesmos como aos outros, para preencher esse vazio. A meditação apresenta-se como uma ferramenta valiosa para harmonizar os nossos sentimentos, questões e inquietações internas, proporcionando soluções que se destacam como as mais adequadas.
A presença destes vazios nas nossas vidas é incontestável. Cada um de nós carrega consigo um pequeno abismo interior, onde residem as perguntas sem resposta. Às vezes, explicá-los torna-se uma tarefa árdua. Não sei ao certo o que é mais desafiador: a busca incessante por respostas ou o confronto com aquelas que já possuímos, mas hesitamos em aceitar. Após desvendarmos as respostas, chega o momento crucial em que as aceitamos e, com coragem, avançamos destemidamente.
Este vazio, paradoxalmente, funciona como um impulso para avançarmos, dependendo da nossa disposição individual. Se fosse preenchido prematuramente, correríamos o risco de estagnar, impedindo a nossa evolução. Os vazios emocionais, mesmo desprovidos de uma explicação lógica, revelam-se dolorosos, puxando-nos para baixo. A responsabilidade de cada um de nós, a cada momento, é procurar formas de preenchê-los, seja através de novidades, pequenos prazeres, crescimento mental sem restrições, viagens e aceitação da mudança. Minimizar os estragos exige uma atenção constante aos sinais e mensagens que a vida nos apresenta. Embora nem sempre seja fácil, na maioria das vezes é possível, corroborando o ditado popular de que “parar é morrer”. Abster-se ou desistir transforma-nos em mortos-vivos, afetando não apenas a nossa própria existência, mas também a daqueles que nos rodeiam. Devemos persistir na busca por preencher os nossos vazios com pequenas alegrias, beneficiando não só a nós mesmos, mas também os que partilham connosco o mesmo espaço emocional.

A sensação de vazio parece ser uma parte particular de cada um de nós. As memórias de encontros familiares evocam a felicidade proporcionada pelo amor em abundância. No entanto, esse vazio pode ser uma presença constante na nossa caminhada. Mesmo rodeado por tudo e todos, mantinha-se uma sensação de solidão. Na adolescência, eventos festivos como réveillons, batizados, casamentos e aniversários eram tingidos por uma tristeza persistente, criando um vazio no peito. Era algo estranho, que acabamos por atribuir esse sentimento às nossas inseguranças, imaginando que o tempo resolveria essa lacuna. No entanto, esse vazio pode persistir até os dias de hoje. Para citar Fernando Pessoa, somos “um permanente desassossego em busca de pequenos nadas que preencham os vazios em constante mutação”.
Todos experienciamos esse vazio, independentemente da quantidade de coisas na vida. Mesmo quando acreditamos ter tudo – filhos, trabalho, casa, algum dinheiro, por mais limitado que seja –, em algum momento de pausa na correria quotidiana, surge a percepção de que algo nos escapa, embora por vezes não saibamos ao certo o que é. É um eco constante, uma lacuna que persiste, independentemente do estágio que atingimos na caminhada da vida. Essa sensação, comum a todos nós, é como uma sombra que se projeta nos momentos de quietude, lembrando-nos da incompletude que permeia até mesmo os aspectos mais plenos da existência.

Na minha modesta visão, essa sensação simplesmente manifesta-se de maneira mais evidente para alguns do que para outros, uma vez que todos partilhamos a condição humana, particularmente imperfeita. Viver o presente, como se o amanhã não estivesse garantido, é a essência. Sejamos felizes e proporcionemos alegria aos outros, hoje e sempre. No dia a dia, encontramos na simplicidade desta abordagem a chave para enfrentar os desafios e saborear as pequenas alegrias que a vida nos oferece.
Viver é preencher vazios com a simplicidade das pequenas alegrias.

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